Resumo referente aos trabalhos:
NA – Nota explicativa do autor do resumo

1.Espectroscopia de prótons por ressonância magnética: aplicações clínicas em pacientes com lesões encefálicas Sérgio Luiz RaminWaldir Antonio TognolaAntonio Ronaldo Spotti
https://doi.org/10.1590/S1516-31802003000600008 Case report • Sao Paulo Med. J. 121 (6) • 2003 • https://doi.org/10.1590/S1516-31802003000600008

2.Dyslexia and age related effects in the neurometabolites concentration in the visual and temporo-parietal cortex. Kossowski, Bartosz; Chyl, Katarzyna; Kacprzak, Agnieszka; Bogorodzki, Piotr; Jednoróg, Katarzyna. Sci Rep ; 9(1): 5096, 2019 03 25.


Todos nós estamos acostumados ao uso de um aparelho de microondas na cozinha. Nesse aparelho é criada uma onda eletromagnética que faz vibrar os elétrons de cada átomo do alimento gerando calor(NA).


Se você colocar um aparelho que meça a onda eletromagnética que atravessa cada uma das substâncias que compõem o alimento você conseguirá conhecer a composição química desse alimento(NA).

 

Essa leitura da onda eletromagnética é feita através da dispersão de um raio de luz do espectro luminoso. Daí o nome do  equipamento se espectroscópio(NA).


Os princípios básicos da ressonância magnética são conhecidos desde a década de 1940, mas devido a dificuldades técnicas a primeira imagem do corpo humano por ressonância magnética só foi alcançada no início da década de 1980.(1)

Em meados da década de 1990 o desenvolvimento de softwares computacionais que permitisse que equipamentos de espectroscopia pudessem ser acoplados aos equipamentos de ressonância magnética e com isso passamos a estudar não somente quais substâncias compõem cada parte do corpo humano mas também a concentração delas no tecido. Com isso o uso clínico da espectroscopia por ressonância magnética in vivo tornou-se rotina em muitos hospitais.(1)

 

A espectroscopia de ressonância magnética é usada para detectar, por exemplo, o perfil metabólico e bioquímico de áreas cerebrais.(1)


A espectroscopia de ressonância magnética de prótons in vivo permite detectar a presença de certos metabólitos no tecido cerebral se as concentrações mínimas estiverem entre 0,5 e 1,0 mM. São exemplos:

- N-acetil aspartato (Naa): é um marcador neuronal que está presente nos corpos dos neurônios e axônios, e indica sua densidade e viabilidade. Sua produção ocorre nas mitocôndrias do tecido cerebral. Devido a esses fatores, o pico de Naa na espectroscopia de prótons estará diminuído sempre que houver perda de neurônios, como em gliomas, isquemias e doenças degenerativas.

- A creatina (Cr) é um marcador do metabolismo energético aeróbico das células cerebrais, e está presente em maiores concentrações na substância cinzenta do que na branca. O pico de creatina é praticamente constante e pode ser usado como valor de controle em relação a outros metabólitos. Ocasionalmente, ocorre redução do pico de Cr em tumores cerebrais, principalmente em metástases.

- A colina (Cho) é uma molécula constituinte do metabolismo fosfolipídico das membranas celulares e reflete a renovação da membrana. Sua concentração é ligeiramente maior na substância branca do que na substância cinzenta. O aumento da colina indica maior síntese de membrana e proliferação celular (como no caso dos tumores). Sua concentração é normalmente muito aumentada em casos de processos expansíveis neoplásicos cerebrais (câncer).

- Lactato isso não é comumente detectado na espectroscopia do tecido cerebral. Sua presença indica uma condição patológica em relação aos produtos finais do metabolismo anaeróbio. O lactato pode ser identificado em cistos, tecidos hipóxicos/isquêmicos e algumas neoplasias.(1)


Conhecem-se inúmeros outros marcadores com atividades específica que não cabem no contexto deste resumo.(NA)


A dislexia é uma dificuldade cerebral na aquisição de habilidades de leitura. Uma vez que esta desordem é heterogênea, muitas teorias etiológicas diferentes têm sido propostas para explicar sua sintomatologia.(2)

 

Quando existe uma hipofunção em determinada área do cérebro poderá ocorrer uma hiperfunção em outra área que tenta substituir a primeira. Esse fenômeno é denominado hiperexcitabilidade por promover o desequilíbrio entre a  excitação e a inibição dos neurônios pelo pequeno tempo de atividade neural. Esse fenômeno também é conhecido como ruído neural.(2)


Essa teoria da hiperexcitabilidade, quanto a medida dos neurotransmissores, deverá prever um nível elevado de glutamatérgico (Glu ou Glx) em indivíduos disléxicos, uma vez que as concentrações de glutamato são correlacionadas positivamente com excitabilidade cortical.(2)


Como os estudos de oscilações corticais na dislexia não forneceram evidências conclusivas em favor dessa teoria, os autores do segundo artigo pretenderam testar diretamente se as concentrações  dos neurometabólitos como GABA, colina e glutamato estão ou não alterados em indivíduos com dislexia.(2)
 

Estudando as alterações nos níveis de neurometabólitos pode-se informar sobre diferenças citoarquitetônicas subjacentes entre leitores típicos e disléxicos. Já foi demonstrado no primeiro artigo que no N-acetilaspartato total (tNAA) a concentração não só reflete a densidade, função ou viabilidade neuronal, mas também mantém e suporta a mielinização.

A colina é considerada um marcador de membranas celulares, o que pode refletir a densidade das células gliais (de sustentação e de cicatrização), a quantidade de mielina ou a quantidade de renovação da membrana neural. Foram encontradas diferenças significativas entre disléxicos e controles - tanto adultos quanto crianças, principalmente no fascículo arqueado e corpo caloso.(2)

 

Resultados (2)

 

Os adultos (disléxicos ou não), em média, tiveram maior concentração de colina do que as crianças em 14,1% na região temporo-parietal e 10,1% no córtex visual refletindo aumento na proliferação celular.


Crianças disléxicas em comparação com crianças controle apresentaram concentração absoluta de colina inferior em 7,6% no lado temporo-parietal esquerdo e em 5,5% no córtex visual. Ou seja as crianças disléxicas tem menor proliferação celular que as não disléxicas.


No córtex visual, mas não no córtex temporo-parietal esquerdo, um efeito da idade foi encontrado para Glutamato e Glutamina, com crianças tendo maior concentração de neurotransmissores do que adultos (17,9% - Glutamato e 13,6% - Glutamina).


A quantidade medida de GABA não se mostrou alterada nem em relação a idade e nem em relação a dislexia ou não dislexia.


Creatina (Cr): em ambas áreas cerebrais houve efeito significativo da idade  para as regiões temporo-parietal esquerda epara o córtex visual. As crianças tinham menor concentração de Cr que os adultos em 17,8% no temporo-parietal e em 5,7% no córtex visual (menor metabolismo energético aeróbico!!!).


Quanto ao N-acetil-aspartato total (tNAA) mostraram que no córtex visual, mas não no córtex temporo-parietal esquerdo, houve menor concentração de tNAA em 4,5% dos indivíduos disléxicos em relação aos controles de leitura normais. Foi constatada também diferença relativa a idade do avaliado na esquerda córtex temporo-parietal, onde as crianças apresentaram menor concentração de tNAA do que os adultos em 10,8%.


Combinando indivíduos controles e disléxicos, em relação a medida de colina, observou-se que  quanto maior a concentração desse metabólito no tecido neural menor a velocidade de nomeação de objetos e cenas.


Concluem que:


- os indivíduos disléxicos, independentemente da idade, tinham tNAA signifcativamente menor do que os controles na região do córtex occipital.  O NAA é o neurotransmissor mais proeminente detectado no cérebro humano normal, que reflete a densidade, função ou viabilidade neuronal, mas também é considerado um correlato neuroquímico de integridade neurônio-oligodendrócitos (axônio-mielina). tNAA reduzido em indivíduos disléxicos sugere que na substância branca existem anormalidades da microestrutura, uma vez que a baixa concentração de tNAA está positivamente correlacionada com a falta de atividade de tecido neural.


- o Fosfato mostrou menor concentração nas áreas temporo-parietais esquerdas na dislexia em crianças e adultos. Nos estudos neurofuncionais em dislexia, refletem as anormalidades no processamento do movimento visual e outros estímulos como sequências de símbolos.


- A hipótese de ruído neuronal (por hiperexcitabilidade neural) que seria confirmada por um nível elevado de glutamato  na dislexia não ficou demonstrado no estudo atual. A redução do glutamato foi relacionada à idade, mas não à dislexia em nossa amostra.  A diminuição dos metabólitos é antes o resultado da maturação do sistema neuronal e de seu metabolismo.

- Com relação à colina, os resultados sugerem que seu papel na leitura e na dislexia pode mudar com a idade. Especificamente, em adultos, mas não em crianças, alta colina tanto no córtex occipital quanto no córtex temporo-parietal foi relacionado com velocidade de nomeação mais lenta. Outro autor (Bruno et al. (2013)), que encontraram uma correlação negativa entre colina no giro angular esquerdo e habilidades fonológicas em adultos jovens.

A velocidade de nomeação é considerada uma habilidade fonológica que reflete a velocidade de acesso à informação fonológica na memória de longo prazo.

Ainda , a colina é considerada um marcador de membranas celulares, ou seja, a quantidade de renovação da membrana por quebra ou síntese. Foi demonstrado que o pool de colina aumentam com idade. Nossos resultados são consistentes com a dinâmica de crescimento tecidual relacionada à idade(envelhecimento).

A concentração de creatina pode mudar com a idade, uma vez que os adultos apresentaram maior concentração absoluta de creatina do que crianças.

 

Não foram encontradas diferenças significativas na concentração de GABA, que gera oscilações em alta freqüência bandas, em nenhum dos grupos.