DISLEXIA E DSM V - NOSSOS COMENTÁRIOS

1.No Manual de Doenças Mentais 5ª edição (DSM V) há um capitulo intitulado Specific Learning Disorder – SLD. A tradução adequada seria Transtorno Específico de Aprendizagem. A sigla para Transtorno Específico de Aprendizagem seria TEA. Ocorre que TEA era a sigla usada para Transtorno do Espectro Autista e por este motivo diversos autores preferem usar a terminologia Perturbação Específica de Aprendizagem.

2.Naquele capítulo define-se a Perturbação Específica de Aprendizagem como um tipo de Transtorno do Neurodesenvolvimento que impede a capacidade de aprender ou usar habilidades acadêmicas específicas (por exemplo, leitura, escrita ou aritmética), que são a base para outro aprendizado acadêmico.

- O uso "um tipo de Transtorno do Neurodesenvolvimento" foi bem considerado porque já é aceito que a etiologia desta perturbação seja multifatorial e que tenha por base alterações genéticas, neurológicas e neurocognitivas. A genética identificou os cromossomas 6 e 15 e os genes KIAA0319, DCDc2 e DYXC1 como prováveis envolvidos no processo. Algumas áreas corticais também já foram identificadas: parieto-temporal, occipito-temporal e inferior frontal.

3.Na continuidade a definição do DSM diz que as dificuldades de aprendizado são "inesperadas", pois outros aspectos do desenvolvimento parecem estar bem.

 

- Este trecho da definição nos parece estranho porque observamos, com muita freqüência, crianças com algum atraso na fala, na área motora e também no processamento visual.  

4.A definição continua em Os primeiros sinais de dificuldades de aprendizagem podem aparecer nos anos pré-escolares (por exemplo, dificuldade em aprender nomes de letras ou contar objetos), mas só podem ser diagnosticados de maneira confiável após o início da educação formal.

 

- Este trecho da definição está ajustado ao padrão norte-americano de escolarização. No Brasil algumas escolas estão iniciando a chamada “educação formal” aos 4 anos de idade ! Para nosso país há necessidade de adequação desta frase.


5.Continua ainda definindo que Entende-se por Perturbação Específica de Aprendizagem uma condição transcultural e crônica que normalmente persiste na idade adulta, embora com diferenças culturais e mudanças no desenvolvimento na maneira como as dificuldades de aprendizado se manifestam. Por exemplo, nos países de língua inglesa, as crianças lutam para aprender a correspondência entre letras e sons para decodificar palavras únicas com precisão, enquanto os adultos podem ter dominado as habilidades básicas de decodificação, mas lêem devagar e com esforço. Por outro lado, em países com um idioma não alfabético ou nos quais a correspondência entre os sons da fala do idioma e as letras usadas para representar esses sons é muito mais simples do que no inglês, as crianças com Perturbação Específica de Aprendizagem (por exemplo, dislexia) dominam a correspondência do som da letra rapidamente, e crianças e adultos com Perturbação Específica de Aprendizagem lutam com a fluência da leitura.
 

De fato diversos estudos têm mostrado que existem muitas diferenças na forma como cada país compreende o fenômeno das dificuldades de aprendizagem, na terminologia usada e no modo como a escola se organiza para responder às necessidades e características dos alunos. Adicionalmente, tem revelado que, mesmo quando a terminologia utilizada coincide, as definições conceituais e operacionais podem ser diferentes. Tem, igualmente, revelado que, num mesmo país, existem variações regionais que necessitam ser consideradas.