Santana SA, Lima AA, Barbosa FSL, Silva FMB. Análise epidemiológica do crescimento do uso de
canabinóides sintéticos no município de São Paulo. BEPA, Bol. epidemiol. paul. 2025; 22: e41464.
DOI: https://doi.org/10.57148/bepa.2025.v.22.41464
 

Introdução


Canabinoides sintéticos (CS), também conhecidos como “sais de banho”, “krokodil”,
Spice, K2, K4 e “droga zumbi”, entre outras nomenclaturas, são substâncias que surgiram
em laboratório por volta dos anos 2000. Os primeiros relatos de casos foram documentados
nos EUA.1,2 Em 2010, houve um crescimento exponencial de casos, com mais de 2.500
chamadas registradas pela Associação Americana de Centros de Controle de Venenos,
em comparação ao ano anterior, com apenas 53.3 Os canabinoides sintéticos representam
a classe de drogas de abuso de crescimento mais rápido nos Estados Unidos, com 177
novas substâncias psicoativas relatadas ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime em 2014.4


A droga K9 é uma substância sintética que reproduz os efeitos da maconha em
razão de sua alta concentração de tetra-hidrocanabinol (THC). No entanto, é uma mistura
de cocaína, heroína e fentanil, originada de uma planta africana usada como repelente
de insetos, e não da Cannabis sativa.5 Além disso, pode ser produzida em casa. Por isso,
os CS são conhecidos como “maconha alternativa”, pois interagem com os receptores
canabinoides CB1 e CB2, que compõem o sistema endocanabinoide, regulando dor,
humor, fome, sensação de bem-estar e recompensa, atuando sobre sistema nervoso
e dopaminérgico mesolímbico.2 Apesar de utilizar os mesmos receptores que os
fitocanabinoides, os CS têm uma afinidade de 4 a 5 vezes maior e uma potência de 40
a 660 vezes superior ao THC, podendo ser até 50 vezes mais potente que a morfina.6

 

Dados oficiais do governo brasileiro, como o 5o Informe do Subsistema de Alerta
Rápido sobre Drogas, revelam que os canabinoides sintéticos já chegaram ao Brasil.
Atualmente, eles afetam principalmente o município de São Paulo, com um aumento
de notificações de 98 em 2022 para 216 até o primeiro semestre de 2023.8 O uso de
canabinoides sintéticos foi documentado a partir de 2015 e vem crescendo nos últimos
seis anos.9 Além de São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba,
Paraná, Rio de Janeiro, Roraima e Tocantins eportaram apreensões entre 2020 e 2023.8
Todavia não apresentaram aumento tão significativo, o que justifica o foco dado a São
Paulo no presente estudo.

Os efeitos dessas substâncias são majoritariamente psicoativos, como diminuição da
atividade motora e da capacidade de raciocínio, relaxamento físico, alteração dos sentidos,
euforia, paranoia, delírios, ansiedade, convulsões e aumento do apetite.7 Os canabinoides
sintéticos conferem a característica de “zumbi” por deixar as pessoas entorpecidas e fora
da realidade, além de causar necrose de tecidos e poder levar à amputação de membros
e à morte, dependendo da forma de administração.5 A forma de uso também varia. Os
canabinoides podem ser combinados com outras drogas, ser usados na forma de spray
ou incenso, entre outras formas.8
 

Por serem drogas novas, baratos, com variações químicas e diversidade de utilização,
há uma dificuldade em compreender, detectar, classificar e controlar os canabinoides
sintéticos. Da mesma forma, ainda não foi possível promover políticas públicas eficazes.1,9
Essas características dos CS também explicam por que els têm se tornado populares entre
traficantes e usuários.10 Em um estudo realizado na Nova Zelândia com uma amostra de
47 pessoas, 41 relataram grande dificuldade em interromper o consumo das drogas por
causa dos sintomas de abstinência, conferindo aos canabinoides um caráter altamente
viciante.11 Esses fatores são agravantes porque podem sobrecarregar os serviços do sistema
de saúde.12

 

Desde 2020, o governo e o Ministério da Saúde têm implementado medidas
preventivas contra o consumo de canabinoides sintéticos, focando a criação e a divulgação
de informativos e documentos técnicos.13,14 A ingestão de CS representa um problema
de saúde e segurança pública, destacando a necessidade de continuar coletando e
publicando artigos sobre novas tendências, picos e a situação epidemiológica dessas
drogas para juntar evidências que possam contribuir para a criação de protocolos e ações
de saúde. Os dados epidemiológicos sobre canabinoides sintéticos são limitados a estudos
transversais com vieses e amostras pequenas. Estudos epidemiológicos comunitários,
como osecológicos, apresentam uma amostra maior e representação em nível nacional,
oferecendo um cenário melhor para compreender a epidemiologia dos CS.1

 

Diante disso, o presente estudo tem por objetivo analisar o crescimento das
notificações de canabinoides sintéticos em São Paulo e o perfil de seus usuários, visando
compreender melhor a situação epidemiológica nesse município, que é o principal foco
de crescimento em comparação a outros estados brasileiros, além de comparar com as
tendências observadas na literatura científica.

 

Métodos


O presente estudo é observacional, do tipo ecológico-temporal, que analisa dados
agregados de uma população para investigar associações entre variáveis em nível
populacional. O estudo foi conduzido com dados da população do município de São
Paulo (Brasil), obtidos por intermédio do Programa Municipal de Prevenção e Controle
de Intoxicações (PMPCI) da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Secretaria
Municipal da Saúde de São Paulo (COVISA/SMS-SP), que disponibiliza semanalmente o
relatório epidemiológico de casos suspeitos de intoxicação exógena por canabinoides
sintéticos registrados no Sinan, de 1o de janeiro de 2023 a 31 de dezembro de 2024.13,14
Programas semelhantes a esse não são encontrados em outros estados em razão da
maior predominância de notificação de casos por intoxicação a canabinoide sintético no
município de São Paulo. Os boletins epidemiológicos foram acessados por meio do portal oficial da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e as informações relevantes foram
extraídas manualmente e digitalizadas para análise. Os dados foram agregados por perfil
populacional, como faixa etária, gênero e etnia. Após a coleta, os dados foram tabulados
em uma planilha do Excel e organizados em gráficos a fim de facilitar a análise e encontrar
tendências e padrões. O estudo utilizou dados anônimos do agregado, garantindo a
confidencialidade das informações individuais, não havendo necessidade de aprovação por
um comitê de ética, pois não foram coletados dados pessoais identificáveis. Há limitações
por não ser possível chegar a uma conclusão sobre os indivíduos e porque a qualidade
dos dados dependem da precisão dos registros nos boletins epidemiológicos. Além disso,
a pesquisa está sujeita a subnotificações em virtude da associação dos canabinoides
sintéticos a outras drogas, dificultando sua identificação. A revisão da literatura foi feita
por meio das bases de dados PubMed, SciELO e LILACS, com a utilização de descritores
(DECS) em inglês: (“synthetic cannabinoids” OR “K9” OR “zombie drug” OR “Spice” OR
“fake weed” OR “synthetic marijuana”) AND (adverse effects OR prevalence OR toxicity OR
“public health”). Foram excluídos artigos repetidos das bases de dados e os que tratavam
de plantas canabinoides e não da droga sintética. Foram excluídos também os artigos
que entendiam “spice” como temperos alimentícios. Em seguida, fizemos uma leitura
minuciosa da metodologia e dos resultados, registrando os trechos mais importantes sobre
o tema em questão. Ao final das análises, foram selecionados 20 artigos, documentos
governamentais e matérias de jornais referentes aos canabinoides sintéticos, abordando
sua origem, composição, efeitos e impactos sociais.

 

Resultados


Este estudo baseia-se na análise detalhada dos boletins epidemiológicos coletados
do município de São Paulo, focando os dados sobre a incidência de intoxicação por
canabinoides sintéticos (CS) em 2023 e 2024. Esses dados foram sistematicamente
coletados, organizados em planilhas, analisados e formatados em gráficos a fim de
compreender melhor os padrões, as tendências e os picos ao longo dos períodos
em análise.

 

Os dados coletados indicam um uso inicialmente baixo de canabinoides sintéticos, com apenas 25 notificações em 2021. No entanto, observou-se um crescimento constante nos anos subsequentes, tanto no número absoluto de notificações quanto na proporção de intoxicações por CS em relação a outras drogas de abuso. Em 2022, houve um aumento: 99 notificações; em 2023, ocorreu um crescimento exponencial, com 1.099 notificações de intoxicação por CS. É importante destacar que, enquanto o número de intoxicações por outras drogas permaneceu relativamente constante de 2022 para 2023 (7.049 para 7.149 notificações), o número de intoxicações por canabinoides sintéticos aumentou de forma significativa: onze vezes. Esse dado indica que o crescimento no número de intoxicações foi especificamente associado aos canabinoides sintéticos, em vez de um aumento generalizado nas intoxicações por todas
as drogas. No primeiro semestre de 2024, a tendência de crescimento contínuo das
intoxicações por CS foi mantida. Mesmo em apenas seis meses, até julho, a proporção
de notificações de CS em relação às demais drogas já superou a do ano inteiro de 2023
apresentando uma proporção de 14,3, mas, até o fim de 2024, essa relação diminuiu para
13,1, pois o número de casos de canabinoide se manteve constante em relação ao ano
completo de 2024, enquanto os casos com outras drogas de abuso aumentaram, indicando
um crescimento constante do consumo da droga, mas que se acentua no primeiro mês
de 2024.
O presente estudo analisou a incidência de novos casos em 2023 e 2024, comparando ambos os períodos. Observou-se que o ano de 2023 iniciou com uma alta nas notificações em comparação ao ano anterior, já que em janeiro desse ano foram notificados 61 casos, finalizando com 1.099. Para o primeiro semestre de 2024, os dados revelam uma tendência de diminuição gradual no número de notificações mensais. 
Comparando com a taxa de incidência de 5,6 por 100 mil habitantes em 2023, o primeiro
semestre de 2024 apresentou uma taxa reduzida de 3,92 por 100 mil habitantes. 

Ambos os anos mostram padrões de variação com picos seguidos de quedas, além
de aumentos nas taxas de incidência após períodos festivos e diminuições durante férias
escolares e festas de fim de ano. O padrão seguido pelos dois anos foi um crescimento no
primeiro semestre atingindo um pico no meio do ano e uma redução no final do segundo
semestre. Ambos apresentaram quase o mesmo número de casos, mas 2023 apresentou
mais picos, enquanto 2024 foi mais constante. Os meses que apresentaram maior número
de casos foram junho e julho, nos dois anos do estudo. O resultado pode estar associado
a períodos de férias escolares e maior tempo livre. A redução no fim do ano pode indicar
uma diminuição de casos de fato ou uma subnotificação em decorrência dos recessos e
feriados. Especificamente, em 2023 apresenta picos em agosto e outubro, que
podem estar associados ao retorno das aulas e à retomada das atividades normais depois
das férias. O gráfico de 2024, por sua vez, demonstra um pico depois das festividades
do Carnaval.
Adicionalmente, o estudo também investigou o perfil epidemiológico dos usuários
de CS, comparando os anos de 2023 e o primeiro semestre de 2024. A faixa etária dessas
pessoas foi analisada e indicou uma prevalência do consumo de CS entre diferentes idades.
Em 2023, os dados mostraram que 60% (nª = 660) dos casos notificados tinham de 20 a 39
anos e 26% (nª = 285), de 15 a 19 anos. Em 2024, essa tendência manteve-se consistente,
com 60% (nª = 666) dos casos na faixa etária de 20 a 34 anos e 19% (nª = 214), na faixa
de 15 a 19 anos. Esses achados indicam que o público mais afetado por CS continua a ser
predominantemente jovem, com uma concentração significativa entre os 20 e os 34 anos.
A análise dos gráficos revela que, embora haja uma ligeira variação nas faixas etárias
de um ano para o outro, a distribuição geral dos casos permanece estável. Ademais, um
achado importante é o acréscimo no número de casos notificados por intoxicação de
crianças de 5 a 9 anos de 2023 (apenas 1 caso), para 2024 (4 casos), o que pode indicar
um aumento do consumo precoce desses psicoativos.

Em relação ao gênero,dos casos notificados com os anos, observou-se que a
predominância, tanto em 2023 quanto em 2024, foi de homens, já a proporção de mulheres
apresentou um crescimento de 2023 (18%) para 2024 (20,2%).

 

Por fim, este estudo também analisou a etnia da população em risco. Observou-se
que, majoritariamente, a população de 2023 e de 2024 que se declara parda constitui a
maior parte da população em risco, 50% (nª = 1.114) dos casos. Em segundo lugar, está
a população branca, com 26% (nª = 590), apesar de haver uma grande diferença entre os
dois grupos. E em terceiro lugar, vem a população preta, representando 18% (nª = 406).
Observou-se também que houve pouca variação entre essa proporção durante os anos,
apesar de leve diminuição na população parda e aumento na etnia branca e preta. Outros
grupos étnicos apresentaram notificações menos expressivas, como a população amarela
e a indígena. Em contrapartida, é válido pontuar que o número de indivíduos ignorados foi
de 57, um valor significativo, que pode representar uma imprecisão na coleta dos dados.
Esse fator ressalta a importância de aprimorar a coleta de dados para incluir informações
mais completas e precisas sobre todos os grupos étnicos.
Em resumo, os resultados apontam um aumento constante do consumo de drogas,
em que a população de usuários é predominantemente masculina, parda e tem de 15 a 34
anos. Além do aumento nos números de casos, este estudo comprovou que essas drogas
estão em ascensão, em comparação com as demais, e que os picos de abuso ocorrem
principalmente em períodos depois de festividades e férias escolares.

 

Discussão


Esta pesquisa analisou dados inéditos a respeito do padrão de crescimento do uso
de canabinoides sintéticos no Brasil, especificamente no município de São Paulo, e o perfil
dos usuários. A coleta e a análise dos dados oferecem informações epidemiológicas para
a atuação da comunidade científica global e nacional, bem como para a saúde pública.
O presente estudo foi realizado por intermédio da análise de fontes oficiais do governo
de São Paulo; no entanto, é importante reconhecer a possibilidade de subnotificação do
uso de canabinoides sintéticos, causada por um possível registro impreciso dos dados,
o que pode afetar a total compreensão do cenário no município. Um dos fatores que
podem explicar essa imprecisão dos dados, como observada na literatura, é a dificuldade
em detectar e classificar os canabinoides sintéticos, tendo em vista que essas drogas
apresentam uma grande diversidade de composições químicas e modos de uso, o que
dificulta sua detecção, diagnóstico e a atribuição correta de atestados de óbito causados
por seu consumo.1 Ademais, ao se tratar de um estudo ecológico, cuja análise dos dados
é feita em nível agregado, as informações não podem ser generalizadas para toda a
população, tendo em vista que não há informações em nível individual, podendo haver
vieses de confundimento.15
A análise da literatura evidenciou uma tendência no crescimento global do uso de
canabinoides sintéticos desde o início dos anos 2000.10 Resultados da atual pesquisa
apontam um aumento significativo na proporção do canabinoide sintético sobre as
demais drogas de uso abusivo, principalmente em 2022, com 1,4% das drogas, para 2023,
com 13%. Também indicam um crescomento no primeiro semestre de 2024, com 14%. Esses dados comprovam as previsões de estudos realizados em 2016 nos Estados Unidos, que apontaram que os CS são as drogas que mais crescem entre os psicoativos.
Assim como no cenário internacional, no Brasil houve crescimento significativo da droga.8
Em conformidade com a literatura analisada, os resultados do presente estudo demonstram
como essas drogas estão em constante crescimento na cidade de São Paulo. Esse aumento
pode ser atribuído ao baixo custo dessas drogas sintéticas. No Brasil, são vendidas por
até 10 reais (às vezes, pela metade desse valor). A produção dos canabinoides também é
de baixo custo e eles podem ser sintetizados em casa.5,16 Um estudo realizado em 2010
em uma universidade da Flórida aponta um crescimento de drogas K sobre os jovens, 8%
da amostra de 842 estudantes já haviam utilizado esse tipo de droga. Essa prevalência é
maior do que outras drogas comumente utilizadas por essa população, como LSD, cocaína,
sedativos e esteroides anabolizantes.3 Os dados analisados neste estudo revelaram que a
faixa etária com maior predominância no Brasil no uso da droga está entre 20 e 34 anos,
seguida pela faixa etária de 15 a 19 anos. Destaca-se também uma porção significativa
de casos entre indivíduos menores de idade (dos 5 aos 9 anos), com um total de 334 casos em 2023 e 261 casos em 2024. Estudos afirmam que as motivações para o uso
dos canabinoides sintéticos, principalmente nessas faixas etárias, estão associadas
geralmente a curiosidade, baixo custo, efeitos positivos do medicamento, como
relaxamento e sensação de euforia agradável, crença na segurança da droga e potencial
para não detecção em testes de drogas.6 Além disso, os resultados constataram que, em
sua maioria, os usuários são homens, cerca de 80% do total de consumidores em 2023
e 2024. Esse aspecto também foi constatado na literatura internacional, que
indica um maior número de usuários jovens e homens, entre 13 e 59 anos.3,1 A explicação
para o uso recreativo de drogas ilícitas no meio masculino pode envolver uma série de
questões, como afirmação de masculinidade, meio de escape da realidade e relaxamento.17
Observou-se um aumento gradual no número de notificações de intoxicação por
canabinoides sintéticos (CS) ao longo dos últimos anos. Este estudo notou o crescimento
ao longo dos últimos anos com um aumento gradual em 2021 e 2022 e um pico em
2023, totalizando 1.099 casos de intoxicação por canabinoide sintético.
No entanto, os dados de 2024 indicam uma diminuição gradual no número de notificações
mensais. Esses dados refletem um padrão de aumento no consumo e na detecção de
canabinoides sintéticos ao longo dos anos, mas a redução nas notificações em 2024 pode
indicar uma possível estabilização ou mudanças nas práticas de monitoramento e registro
dos casos.14

Este estudo observou também variações ao longo dos anos de 2023 e de 2024
e um aumento nas taxas de incidência após períodos festivos e diminuições
durante férias escolares e festas de final de ano.
Em comparação com estudos realizados na Austrália, as Novas Substâncias Psicoativas
(NPS), como é o caso dos canabinoides sintéticos, apresentavam variações diferentes
das demais drogas, como os opioides e a Cannabis, que eram utilizadas de forma estável
durante os anos analisados, de dezembro de 2011 a dezembro de 2015. Em contrapartida,
as NPS apresentam mais variações durante os anos e um aumento nos fins de semana.18
Em comparação com as tendências brasileiras, o consumo de canabinoide sintético
apresenta mais oscilações ao longo do ano e suas variações sugerem que as taxas de
incidência podem ser influenciadas por atividades sociais, com picos durante e após
eventos festivos e uma redução durante períodos de férias escolares, quando há menor
interação social, uma tendência que a difere um pouco das demais drogas, que são
mais constantes.18 Reconhecer esses padrões é fundamental para entender os fatores
externos que afetam o uso de canabinoides sintéticos e, consequentemente, para otimizar
o planejamento e a alocação de recursos de segurança pública. Integrar essas análises
fornece uma visão mais detalhada e fundamentada sobre o uso de canabinoides sintéticos
no Brasil, possibilitando uma resposta mais eficaz às necessidades de cada período.
O presente estudo reuniu evidências de que o uso de canabinoides sintéticos tem
crescido no Brasil, assim como nos países estrangeiros, e, como esperado, a proporção
desse tipo de droga sobre as demais também tem crescido. Informações sobre a etnia

dos usuários não foram encontradas em nenhum dos estudos analisados, mas, com os
dados do presente estudo, observou-se que a maior parte dos usuários em 2023 e 2024
se declara parda. Esses achados evidenciam uma possível vulnerabilidade maior desses
grupos ao uso de CS, o que não foi tratado em estudos anteriores e é um dado relevante
para o combate contra a ascensão dessas drogas.
Alguns estudos já apontaram a necessidade dos clínicos e autoridades da saúde
pública terem conhecimento da existência das drogas K e monitorarem o abuso, sobretudo
entre os jovens e estudantes, pois o atraso no diagnóstico pode ser letal.3,16 É importante
compreender o perfil epidemiológico e seu crescimento, já que essas drogas muitas
vezes são consumidas com outras drogas. Na Inglaterra, por exemplo, foram relatados
165 óbitos entre 2012 e 2019, com aproximadamente 90% dos casos relacionados ao
uso concomitante com outras drogas.19 Em comparação, no Brasil os dados do boletim
epidemiológico de 2023 e do primeiro semestre de 2024 constatam que a porcentagem
de casos com cura sem sequelas foi de apenas 72%. Assim, os resultados deste estudo
podem ser utilizados para o desenvolvimento de estratégias de prevenção de promoção
de saúde mais eficazes, já que ficou constatado não apenas neste estudo mas também
em outros trabalhos nacionais e internacionais que essas drogas representam um
desafio para as autoridades e para a saúde pública.10,19 Informações referentes à situação
epidemiológica sobre a droga, bem como sobre seu funcionamento, riscos e crescimento,
ainda são limitadas, principalmente no Brasil, tendo em vista que o uso dessas drogas está
concentrado majoritariamente, até o presente estudo, no município de São Paulo e não há
muitos artigos brasileiros a respeito. Este estudo ecológico contribui para a evolução do
tema ao confirmar, em nível municipal, as tendências globais do crescimento dos CS.
Dessa forma, é possível compreender melhor a expansão dessas drogas no território
brasileiro e o perfil da população atingida para promover medidas de prevenção e proteção,
além de aumentar a compreensão sobre os fatores de riscos e as causas que podem levar à
sua exposição.

 

Conclusão


De acordo com as análises apresentadas, podemos inferir que houve um crescimento
do consumo de CS nos últimos anos e que a proporção dessas drogas sobre as demais
também está em ascensão no Brasil, com picos principalmente em períodos pós-festas e
quedas em períodos de férias escolares. Este estudo conseguiu informações sobre o perfil
epidemiológico dos usuários, que são, majoritariamente, homens pardos e jovens. Ainda que
esteja em ascensão, os canabinoides sintéticos não são completamente compreendidos e a
maioria dos dados existentes sobre eles provém de fontes oficiais do governo. Vale ressaltar
que é importante analisar e compreender melhor esse fenômeno por causa do seu potente
impacto na sociedade e na saúde pública. Pesquisas mais aprofundadas sobre a utilização de
canabinoides sintéticos devem ser feitas, assim como sobre a sua correlação com a condição
socioeconômica dos usuários. Também é fundamental saber se há relação de aumento em
áreas geográficas que não são cobertas por Unidades de Saúde da Família (USF).